“Seu egoísta!” Quem já não escutou esse chamativo de outrem, que arremesse o que estiver mais perto. E você nem precisa estar apaixonado ou ser amado para ser alvo de tal ‘inquisição’. Você precisa, tão e somente, estar inserido na comunidade ou ser um societário. Todos estamos ou o somos.
Está muito difícil para acompanhar o raciocínio? Então você está um tanto quanto acomodado! Pare por aqui! Não siga adiante, porque o trânsito estará um caos. Trânsito de informações, idéias e questões.
Se, vivemos em sociedade, convivemos e trocamos conhecimento. Não?! Parece estar acontecendo o contrário. Cada vez o egoísmo velado é mais aparente. É cômodo o simples gesto de passar todos os dias pela mesma ponte e fechar os olhos para debaixo dela. Pressa - inimiga da busca pela perfeição – e ter pressa. Todos os dias, o dia todo, e nunca muda; é fácil, é favorável, é cômodo. Deixar a vida e a rua passarem despercebidas pela sua memória e imaginação.
O excesso de comodidade é viciante. Você já acorda o dia com um “aiiiiiiiiiiiiiiii, que preguiça”! E ao invés de ler o jornal, fica só mais cinco minutinhos na cama e sai em cima da hora. Logo você estará lendo minuto a minuto, on line, os fatos mais importantes do dia - de minuto a minuto, não se esqueça.
Você poderia ir de ônibus hoje, afinal é o seu rodízio! Não, prefere sair mais cedo ou em cima da hora (de novo, porque dormir demasiado, quando se tem a oportunidade, é merecido) e corta as avenidas da cidade para não ganhar uma multa. E depois fica até mais tarde no trabalho - adiantando o serviço ou fazendo hora extra, assim une o útil ao agradável -não se cansa de esperar o ônibus na hora do rush e ainda ganha um dinheiro extra no fim do mês. Recompensador! Necessário? E é nesse dia que você perde aquela aula interessante ou aquele momento especial, com outras pessoas.
Os gestos automáticos sobrepõem as discussões. “Oi, tudo bem”, “tudo e você”, “tudo bem também”, “ah, então ta, até mais“, “até”... o elevador que chega (a escadaria), o sinal que abre (o encontro), a buzina (o aceno), o caixa eletrônico (a troca), o fast-food (a mesa redonda), o microondas (o fogão) , café expresso – tá bom, esse é indiscutível, pula – miojo (bater a massa), baladas (festas). Quem sobreviveu até aqui, pare e pense, qual a diferença?!
Passar e se relacionar. Ver e perceber. Poder e querer. Jogar e participar. Colher e acolher. Ganhar e dar.
Ou nada te satisfaz?! Tanta coisa para fazer, ” você se perde no meio de tanto medo”, que não faz. Senta no seu quarto e o tempo voa, “lá fora a vida passa”, e você aqui à toa, “Eu já tentei de tudo mas não tenho remédio pra livrar-me deste tédio”.
Não criar vínculos nem coragem de mudar aquilo que acha errado, até porque dá o maior trabalho discutir uma relação. Faz bem para o bem estar próprio apenas, ouvir um causo e reproduzir a história?! É mais seguro apenas, reproduzir a sensação... Por isso, assiste as luzes da programação 24 horas e on line. Porque as sombras da cidade fariam você trabalhar mais, por algo melhor e maior do que seu próprio umbigo.